
Erva de trigo no cancro colorretal: evidências científicas
Nesta revisão de 2024, são aglomeradas as evidências científicas disponíveis relativamente à erva de trigo e o seu provável impacto no cancro colorretal (CCR). Vão ser descritas as vias de inflamação em que a erva de trigo desempenha um papel fundamental na sua homeostase.
Previamente, foi comprovado que suplementos à base da planta promovem saúde, em doenças cardiovasculares, hepáticas, sanguíneas, diabetes, alguns cancros e doenças inflamatórias intestinais.
Métodos:
Os dados foram recolhidos da base de dados MEDLINE, PubMed, Embase e Web of Science, posteriores a Dezembro de 2023.
A erva de trigo:
O trigo é um alimento básico importante, rico em nutrientes e fitoquímicos. Através da germinação e desenvolvimento de brotos, os grãos de trigo tornam-se ainda mais nutritivos, com maior potencial antioxidante. Os rebentos são colhidos e depois transformados em um sumo verde com baixo teor de acidez e vários benefícios para a saúde.
Os seus benefícios para a saúde devem-se ao seu elevado teor de clorofila, vitaminas, xantofilas, carotenóides, compostos fenólicos e aminoácidos. A clorofila presente na erva de trigo tem uma estrutura semelhante à hemoglobina humana, tendo potencial de aumentar os seus níveis. Os derivados da clorofila têm propriedades anti-inflamatórias e antimutagénicas. Os carotenóides e compostos fenólicos também oferecem proteção antioxidante e podem ter um papel na prevenção do cancro. As suas propriedades antioxidantes têm sido usadas com sucesso para tratar doenças relacionadas com inflamação, como a dengue, colangiocarcinoma, rinites alérgicas e acne.
Os compostos fenólicos livres e/ou solúveis têm o potencial de diminuir a oxidação das lipoproteínas de baixa densidade, enquanto os compostos ligados/insolúveis exibiram potencial quimiopreventivo no cancro do cólon. Os aminoácidos da erva de trigo são importantes para a digestão, reparação de tecidos e várias funções corporais.
A composição nutricional:
Composto por vitamina C, várias do complexo B (B1, B2, B3, B4, B6 e B10) e vitamina A. Os minerais presentes são ferro, magnésio, zinco, manganês, potássio, cálcio, sódio, cobre, alumínio, selénio, crómio e cobalto.
A nível químico é composto por carboidratos, açúcares, proteínas e gorduras.
Mecanismos de inflamação e desenvolvimento do CCR associado à colite:
A inflamação tem um papel crucial no desenvolvimento do (CCR), com as citocinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-8, IL-1b e o fator de necrose tumoral alfa TNF-a) a contribuírem para o processo. Aquelas com papeis anti-inflamatórios, como a IL-10, controlam a resposta das citocinas pró-inflamatórias, limitando assim as reações inflamatórias excessivas. Níveis elevados de enzimas como COX-2 e INOS, e a ativação de vias de sinalização como NF-kB e Wnt/β-catenina, promovem a inflamação crônica e o desenvolvimento de CCR. A inflamação crônica pode levar a danos no ADN e ativar genes promotores de tumores. A mutação do gene p53 é frequente em CCR associado à colite. Várias vias de sinalização imunológica, incluindo TLRs, JAK/STAT, NF-kB e mTOR, estão implicadas no desenvolvimento de CCR associado à colite.
Possível ação anti-inflamatória da erva de trigo:
Um extrato de erva de trigo com etanol foi avaliado em ratos com cancro no cólon. Os autores avaliaram os níveis de mRNA de citocinas em tecidos do cólon e descobriram que o tratamento com extrato etanólico de erva de trigo inibiu as expressões de TNF-a, IL-1b, IL-6, ciclina D1 e c-Myc, COX-2, INOS e proteína NF-kB nos tecidos do cólon.
Num estudo de 100 pacientes com CCR em estágios II e III, foram divididos em 2 grupos de 50 pacientes cada. Os resultados revelaram que concentrações médias semelhantes das citocinas IL-6, IL-8 e IL-12 foram encontradas em ambos os grupos de estudo. No entanto, a concentração de IL-10 aumentou significativamente no grupo da erva de trigo. Além disso, uma contagem de monócitos significativamente maior foi observada no grupo do sumo de erva de trigo, sem diferenças em outras populações de glóbulos brancos (WBCs) entre os dois grupos. Embora a significância estatística não tenha sido atingida, os autores relataram uma diminuição na concentração de IL-8 durante a injeção de sumo de erva de trigo e sugeriram que nenhuma significância foi atingida, provavelmente devido ao tamanho limitado da amostra e à ampla gama de estudos de citocinas.
A alta concentração de IL-10 pode ser justificada com base no aumento de componentes anti-inflamatórios como clorofila, flavonoides e superóxido dismutase na erva de trigo.
Possíveis atividades anticancerígenas da erva de trigo:
No extrato de erva de trigo com etanol, verificou-se que houve uma redução no desenvolvimento tumoral. No extrato de diclorometano da erva de trigo verificou-se a existência de dois compostos bioativos, o β-sitosterol e galactolipídios. O β-sitosterol demonstrou ter a capacidade de reduzir a proliferação tumoral, enquanto aumenta a capacidade de apoptose, a produção de linfócitos e aumento de células NK (natural killer cells) que têm a capacidade de destruir células infectadas e células cancerígenas. Em simultâneo, os galactolipídios inibem a atividade citoplasmática do NF-kB, que como anteriormente dito têm a capacidade de promover a inflamação crónica.
A erva de trigo com quimioterapia adjuvante:
Em pacientes com CCR e quimioterapia adjuvante, foi adicionada a erva de trigo como suplemento. Em análise, verificou-se que no grupo da erva de trigo houve uma diminuição da IL-6 e do fator TNF-a. Em simultâneo, foi verificada uma queda de glóbulos brancos e neutrófilos devido à quimioterapia, porém, a erva de trigo amenizou bastante a descida de ambos demonstrando um suporte positivo ao sistema imunitário. Os autores ressaltam que houve uma redução na trombogenecidade das EVs (vesículas extracelulares) e uma redução da proteína C endotelial. A angiogênese, que é controlada por receptores do fator de crescimento endotelial vascular (VEGFR), desempenha um papel importante na proliferação e metástase do tumor, aumentando assim a sobrevida e o crescimento do CCR. Os níveis de VEGFR-1 e um alto número de fatores de crescimento/citocinas pró-inflamatórias foram aumentados nas EVs de pacientes que receberam só quimioterapia, salientando a eficácia da erva de trigo na proteção contra o tumor.
Conclusão:
Embora a evidência científica atual seja um pouco limitada, sugere-se que a erva de trigo tem efeitos anti-inflamatórios, anti-cancerígenos, promove a apoptose e está associada a um menor risco de cancro.
Em pesquisas recentes, verificou-se que a microbiota intestinal tem enorme envolvimento com o aparecimento do CCR e apesar da erva de trigo promover uma melhora da saúde intestinal, serão necessários estudos em maior escala.
LINK PARA O ESTUDO: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38791211/